Por: Paulo Renato Fernandes Vieira
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Eu e tu criamos um "nós" perfeito

segunda-feira, 6 de julho de 2015

I Will Never Leave You




Naquele dia acordei com o despertador. Assim teve de ser, mas ao contrário de muitas outras vezes, levantei-me logo, não dei espaço de manobra para que a preguiça se apoderasse de mim. Sentia a energia a rodar à minha volta. Acordei enérgico, e a felicidade transbordava. Também não era para menos, aquele momento que tanto esperei, vai acontecer finalmente. Vou finalmente voltar a ver-te, vou finalmente colocar aquele brilho no meu olhar, aquele mesmo que levaste quando partiste. 

Acelerei o passo, peguei na primeira peça de fruta e segui caminho. Por incrível que pareça sentia-me nervoso, aquele sentimento de ansiedade consumiu-me por completo. Tínhamos combinado naquele sítio que tão bem conhecia-mos. Sabes, aquele sítio que só tu conheces, aquele sítio para onde eu gosto de ir quando preciso de me isolar.

Não seria eu, se pelo caminho, não pensasse naquilo que iria dizer. Não seria eu se, no caminho não treinasse o discurso. 

Mesmo antes de lá chegar, percebi que já te encontravas à minha espera. Aquele perfume que tinha desvanecido com o passar do tempo tinha voltado a ser intenso! O teu perfume voltou a pairar no ar!

Avistei-te ao longe, revi aquele momento em tantos outros que vivemos no passado. Não serias tu se não estivesses sentada da tua maneira muito peculiar e desgovernada.
Lá estavas tu, como em tantas outras, sentada no mesmo banco de jardim. 

Aquele mesmo banco que foi o meu maior confidente, o meu melhor amigo, quando decidiste partir. Aquele mesmo banco que inúmeras vezes deixei que o meu olhar se perdesse em pensamentos para lá do horizonte.

Banco de jardim, que caso falasse teria tantas e boas histórias para contar, dadas as horas, os dias que nele passamos sentados, algumas das vezes a conversar, mas maioritariamente fazia com que nossos olhares se perdessem no rosto um do outro, a apreciar a perfeição que existia em cada um de nós, em cada momento que passávamos.

Fui me aproximando, e tentei transparecer que os meus passos eram firmes quando na verdade as minhas pernas tremiam como se de gelatina se tratassem. A minha boca boca estava seca, as minhas mãos suavam de tal maneira, que fazia parecer que tinha-as molhado no lago que havia no caminho.

Não sei se foi instinto ou não, mas rodaste a cabeça na minha direcção, no preciso momento em que era possível me avistar. Coraste, e numa fracção de segundos, desviaste o olhar em direcção ao horizonte, mas não sem antes mandares para o ar um sorriso daqueles que só tu és capaz.

O caminho parecia tão longo, parecia que levei uma eternidade para percorrer aquele caminho que tão bem conhecia. Mas lá cheguei ao meu destino, naquele dia ao contrario de muitos outros dias, não te levantaste para me cumprimentar com aquele teu abraço apertado que me segurava o coração, naquele dia, os nossos lábios não se tocaram.


Naquele momento, o nós não existia mais... 

Sentei-me a teu lado, e até nisso foi tudo tão diferente, naquele dia deste atenção à maneira como te sentaste, ajeitaste a camisola, e lá te sentaste de costas erectas, com uma postura muito mais rígida.
Mas aqui só entre nós, quiseste mostrar uma parte mais difícil do teu ser, e conseguiste.

A conversa estava difícil de desenvolver, nada do que tinha praticado pelo caminho tinha servido para alguma coisa, estava a ser tudo demasiado cauteloso e pensado. Com o passar do tempo, tudo foi fluindo naturalmente e a conversa estava a tornar-se o que era anteriormente. O nervosismo tinha dissipado e eu já me encontrava no controle de todos os meus sentimentos (ou talvez não).

Lá conversamos, tiramos as nossas dúvidas, fizemos as perguntas que tínhamos pendentes à demasiado tempo e obtivemos as respostas que precisávamos, mas não sem pelo meio tu fugires a uma ou outra. Era natural em ti, está no teu sangue. 

As horas passaram sem que tu e eu déssemos por isso. Era em muito parecido ao tempo em que passamos ali, horas a fio, sem que o mundo fosse algo que realmente importasse. Mas naquele momento os nossos nomes só se conjugavam no singular e nunca no plural. 

Naquele momento éramos apenas duas pessoas individuais.

A hora da despedida e inesperada. Das outras vezes saímos dali, de mão dada, e seguíamos o mesmo caminho, mas naquele dia a tendência era para que os nossos caminhos não fossem os mesmos. Levantei-me, e tu como que por mímica, fizeste-o quase ao mesmo tempo que eu. Beijei por duas vezes a tua face, e soltei talvez o mais difícil adeus da minha vida até o momento. 

Mas tu, tinhas decidido tornar aquele momento ainda mais complicado, do que eu alguma vez pensei. Abraçaste-me de tal maneira, que eu não tive como recusar (como se isso alguma vez fosse possível), e sussurraste-me ao ouvido

- Amo-te, nunca deixei de o fazer, fica por favor, não vás já embora. Aliás, não vás nunca mais, fica comigo.


Triiiiim! Triiiiim! Triiiiim! 

Era o despertador! 


Eu também nunca deixei de o fazer!  Eu não posso ficar. Não posso porque na verdade eu nunca fui embora, estive sempre aqui à espera.

Queres que fique contigo? Queres saber um segredo? Eu sempre estive contigo.

Eu nunca te abandonei!

Amo-te!